Alexandre B. Cunha
Tão logo diversos estados brasileiros adotaram a política de confinamento, ficou claro que ela teria um forte impacto negativo sobre a atividade econômica. Tornou-se então popular a ideia de que era preciso escolher entre salvar a saúde ou salvar a economia. Contudo, a questão não é tão simples assim.
Possivelmente, a maior parte das pessoas concordará que não é possível ter uma economia pujante em uma sociedade na qual de forma geral os indivíduos não gozam de boa saúde. O que realmente escapa de boa parte do público é que não é possível ter um sistema de saúde minimamente eficaz sem que o mesmo esteja apoiado em uma sólida estrutura econômica. Em outras palavras, para ter bons médicos, bons enfermeiros, bons hospitais, boas clínicas etc é preciso ter capacidade financeira para custeá-los.
Para ilustrar esse ponto, iremos temporariamente nos afastar do problema em análise e estudar uma questão aparentemente não relacionada: o conflito entre os EUA e o Japão na II Guerra Mundial. O principal líder militar japonês era o almirante Isoroku Yamamoto. Na sua visão, o Japão precisava obter rapidamente algumas vitórias decisivas de maneira a induzir os EUA aceitar um acordo de paz que fosse favorável aos nipônicos. A ênfase aplicada à palavra rapidamente se deve ao fato que Yamamoto acreditava que se o conflito se prolongasse por anos, a superior capacidade econômica (principalmente na indústria) dos norte-americanos inevitavelmente faria com que eles vissem a ter recursos (navios, aviões, canhões etc) suficientes para suplantar militarmente os seus adversários.
Para o azar do almirante, o Japão não teve sucesso em derrotar os EUA em um curto espaço de tempo. O confronto entre os dois países se arrastou por anos. E a sua previsão de que o poderio econômico do inimigo seria decisivo se concretizou de forma simplesmente espetacular. A titulo de ilustração, considere o caso dos porta-aviões, que se constituíram no principal tipo de navio empregado durante o conflito. O Japão utilizou seis daquelas embarcações no ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941. Naquele momento, os EUA tinham somente três porta-aviões operando no Pacífico. A situação era bem diferente em 1945. Na batalha de Okinawa, que teve início em abril da daquele ano, os norte-americanos lançaram mão de dezessete porta-aviões, contra zero dos japoneses. Ou seja, Yamamoto estava absolutamente correto: a economia teve um papel decisivo na derrota japonesa.
A lógica subjacente ao raciocínio de Isoroku Yamamoto também pode ser aplicada à educação, à ciência e aos esportes. De forma geral, as melhores universidades do mundo se localizam nas nações mais ricas. De maneira similar, usualmente os pesquisadores agraciados com o Prêmio Nobel fizeram as suas descobertas trabalhando em instituições norte-americanas ou europeias. A principal liga de basquete profissional é a norte-americana NBA, ao passo que os melhores times de futebol do planeta estão na Europa.
No tocante à saúde, vale a mesma regra. Tanto que os países com os melhores indicadores de expectativa de vida e mortalidade infantil são, de modo geral, os mais ricos. Adicionalmente, essas nações também possuem os melhores hospitais e os mais destacados centros de pesquisas e cursos da área de Medicina. Em síntese, saúde custa caro. E esse é o principal motivo pelo qual o sistema de saúde dos EUA é melhor que o brasileiro, o qual por sua vez é superior ao do Haiti.
Mais cedo ou mais tarde, uma forte crise econômica terá impactos adversos sobre a saúde. Por tal motivo, se nós realmente desejamos proteger a saúde da população, então precisamos pensar seriamente em fazer com que a nossa economia volte a funcionar.
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