Alexandre B. Cunha
Definitivamente, aquilo que se convencionou chamar de ‘política econômica’ petista não desfruta da admiração deste autor. Testemunhei a sua implementação pelo quinteto Lula, Dilma Rousseff, Guido Mantega, Nelson Barbosa e Arno Augustin com perplexidade e repulsa similares às que um médico sentiria ao ver uma pessoa plenamente sadia ser amarrada a uma maca e passar por uma sucessão de experimentos.
Talvez o leitor considere descabida a comparação acima. Afinal de contas, não parece razoável assumir que membros do alto escalão da administração pública tenham sido capazes de submeter a nação a experimentos. Porém, conforme discutido a seguir, o próprio Nelson Barbosa admite a realização de alguns ‘testes’.
O artigo A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda, de autoria de Nelson Barbosa e José Antonio Pereira de Souza e disponível aqui, contém as seguintes afirmativas:
Enquanto a visão neoliberal respeitava com temor quase religioso a suposta barreira estimada para o produto potencial, a visão desenvolvimentista procurou testar na prática a existência de tais limites, de forma a ultrapassá-los. (p. 11)
É também fundamental reconhecer o papel dos governos de “testar os limites”, ou seja, prospectar as maneiras pelas quais o avanço pode ocorrer […] (p. 32)
Vale ressaltar que o texto em questão é um dos capítulos do livro Brasil: entre o passado e o futuro (2010), organizado pelos ‘luminares’ petistas Emir Sader e Marco Aurélio Garcia.
“Testar os limites”… Que absurdo! Ao longo dos últimos anos, o governo democrático, popular, progressista, revolucionário e bolivariano se dedicou a “testar os limites” da política econômica. Ou seja, o cidadão brasileiro foi tratado como rato de laboratório. Não é de surpreender que a nação esteja agora mergulhada em uma profunda recessão.
A ‘política econômica’ petista jamais esteve calcada na Ciência Econômica, pois esta não pode admitir que um governo se ponha a “testar os limites”. Cabe então indagar quais seriam os seus pilares intelectuais. Aparentemente, o desastre teve como fundamento central uma mistura de vodu com alguns conceitos econômicos básicos. O vodu foi dado pelo contínuo espetar de agulhas em totens dos adversários, como a política econômica do governo FHC, os economistas neoliberais (seja lá qual for o significado desse termo) e qualquer um que questionasse a sabedoria superior das políticas petistas. No tocante aos conceitos, não se pode negar que os petistas utilizavam, mesmo que de forma equivocada, termos básicos como PIB, inflação, taxa de juros, política fiscal, taxa real de câmbio etc.
Dito tudo isto, sugiro atribuir à ‘ciência’ petista o merecido epíteto de vodunomia: uma mistura de furação de bonecos dos adversários com o uso inadequado de conceitos econômicos elementares. Similarmente, a política governamental dela derivada pode, com muita propriedade, ser chamada de política vodunômica.
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