O principal mecanismo pelo qual o confinamento contribui para o combate à pandemia da Covid-19 é o denominado achatamento da curva. Realiza-se neste texto uma exposição do funcionamento do referido mecanismo.

Essencialmente, o achatamento da curva contribui para distribuir ao longo do tempo a demanda por leitos hospitalares e outros recursos médicos de forma a reduzir (ou até mesmo evitar) a sobrecarga do sistema de saúde e, em decorrência disso, salvar vidas. Para ilustrar esse ponto, apresenta-se abaixo um exemplo hipotético. Ressalta-se que os valores utilizados são meramente ilustrativos e, por tal motivo, eles não têm qualquer relação com as estatísticas que seriam observadas em uma situação real.

Imagine que os hospitais da cidade X estejam aptos a atender, ao longo de um mês, até 3 mil pessoas infectadas pela Covid-19. Suponha que metade das pessoas atendidas sobrevive à infecção. Assuma também que se nenhuma medida de mitigação for adotada, então ao longo dos próximos trinta dias haverá 7 mil indivíduos necessitando de atendimento. Em tal contexto, 4 mil doentes não serão atendidos. Como metade desses 4 mil sobreviveriam se fossem tratados, pode-se então concluir que 2 mil mortes ocorrerão exclusivamente devido ao fato de os hospitais de X não conseguirem atender todas as vítimas do vírus chinês.

Suponha agora que X adote medidas de confinamento e distanciamento social. Não necessariamente o número de infectados será menor. Porém, esses casos serão distribuídos ao longo do tempo ao invés de ocorrerem durante os primeiros trinta dias. Por simplicidade, assuma que o número total de indivíduos que precisarão de atendimento ainda seja igual 7 mil; porém, 4 mil procurarão os hospitais  durante os próximos 30 dias, ao passo que os demais 3 mil o farão ao longo do meses subsequentes. Assim sendo, mil pessoas deixarão de ser atendidas; consequentemente, ocorrerão 500 mortes devido à sobrecarga do sistema hospitalar. Relativamente à situação descrita no parágrafo anterior, há uma queda de 1,5 mil no número de óbitos.

Por fim, convém lembrar que conforme previamente mencionado os valores utilizados no exemplo acima são ilustrativos. Assim sendo, não é impossível que confinamento tenha sucesso em evitar que se atinja o atendimento máximo que o sistema de hospitalar é capaz de prover. Em particular, os números subjacentes à figura acima são tais que as medidas de isolamento impendem que se alcance a capacidade plena do sistema hospitalar. Nesse caso, ainda mais vidas serão salvas.