Alexandre B. Cunha
No regime democrático, as eleições têm o importante papel de alocar o poder dentre os diversos grupamentos políticos. Adicionalmente, elas também fornecem informação sobre a força relativa de cada um desses atores. Os recentes pleitos municipais não fugiram à regra. De fato, os resultados dessas eleições permitem que se teçam dois comentários sobre as disputas internas da extrema esquerda brasileira e as suas perspectivas de voltar a governar o Brasil.
1. A força eleitoral da extrema esquerda
Após a derrota de Fernando Haddad na eleição presidencial de 2018, escutei diversas pessoas proferirem comentários como “o PT acabou”, “a esquerda nunca mais voltará ao poder” etc. Bom, eu jamais compartilhei dessa visão. Na verdade, acredito que é altamente improvável que a extrema esquerda brasileira (ou seja, o conjunto composto por organizações como PT, PSOL, PC do B, Rede, PSB, MST, MTST e UNE) deixe de ser um grupamento político bastante poderoso ao longo das próximas décadas. Afinal de contas, a hegemonia que a militância socialista desfruta nas universidades, nas escolas, na grande imprensa, nas entidades de classe, no meio artístico e também na administração pública lhe proporciona considerável influência política mesmo que ela venha a fracassar nas urnas. Em outras palavras, o fato de a elite intelectual e cultural ser, de forma majoritária, simpática aos seus valores e propostas garante que a extrema esquerda continuará a ser, ao menos ao longo dos próximos anos, uma peça importante no xadrez da política brasileira.
Como se isso não bastasse, as eleições municipais deixaram claro que a militância socialista ainda desfruta do apoio de considerável parcela do eleitorado brasileiro. A partir de janeiro de 2021 as cidades de Aracaju, Belém, Fortaleza, Maceió e Recife serão administradas por, respectivamente, PDT, PSOL, PDT, PSB e PSB. No caso específico da capital pernambucana, o partido que disputou o segundo turno contra o PSB foi nada mais nada menos do que o nosso bem-conhecido PT. Adicionalmente, em Porto Alegre a comunista Manuela D’Ávila obteve 45,37% dos votos válidos no segundo turno. E em São Paulo, a maior e mais relevante cidade do país, o psolista Guilherme Boulos atingiu a marca de 40,62% na segunda votação.
Não devemos nos iludir. A extrema esquerda é um grupo político de peso no Brasil. Mesmo que venha a ser derrotada, ela provavelmente desempenhará um papel relevante na disputa de 2022 e nas eleições presidenciais subsequentes.
2. O crescimento do PSOL
Conforme discutido em outro texto deste blog, na eleição presidencial de 1989 o PT e o PDT disputaram de forma bastante parelha a liderança da extrema esquerda brasileira. O PT foi vitorioso e desde então tem sido de forma inconteste o principal partido político do campo socialista. Por outro lado, o PSOL parece estar em ascensão. De fato, com exceção da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, até o começo deste ano o dito partido era eleitoralmente inexpressivo. Contudo, a vitória em Belém e o bom desempenho de Guilherme Boulos em São Paulo sugerem que o partido pode estar a caminho de vir a ter relevância nacional. Assim sendo, é possível que em 2022 o PSOL venha a ser uma efetiva ameaça à liderança do PT dentro do movimento esquerdista.
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