Rio de Janeiro, . | Economia, Governo, Saúde


Quatro comentários adicionais

Alexandre B. Cunha

Este post contém quatro comentários adicionais sobre problemas recentemente discutidos neste blog.

1   “Pausa” na economia

Este autor listou em um texto anterior quatro motivos que impedem que o governo seja capaz de “dar uma pausa” na economia. O primeiro deles é volume de recursos, pois talvez o valor do socorro financeiro que seria necessário para alcançar o objetivo em questão esteja além da capacidade orçamentária do governo. Apenas para não haver dúvida: isso pode ser verdade mesmo que se leve em conta o fato de o governo ter o poder de emitir moeda. Por fim, este autor não está nem um pouco impressionado com argumentos dos adeptos daquilo que se convencionou chamar de Modern Monetary Theory.

2   Mortes na Suécia

O último artigo deste blog discutiu o caso da Suécia, que não adotou uma política de confinamento. Presentemente, a sua taxa de mortalidade (i.e., o número de mortes causadas pela Covid-19 dividido pela população) é superior à de nações escandinavas que o fizeram. Esse fato tem sido utilizado para criticar a política sueca. Contudo, há dois problemas nessa crítica. O primeiro é que, conforme discutido naquele artigo, o motivo alegado para que se adote o confinamento é que o mesmo impende que ocorra uma sobrecarga no sistema de saúde. Como não houve sobrecarga nos hospitais do país, não existe razão para que a Suécia adote o confinamento.

Com relação ao segundo problema, lembre que de acordo com a hipótese do achatamento da curva, o objetivo do confinamento é retardar a difusão do vírus. Assim sendo, não é de surpreender que inicialmente a Suécia tenha uma taxa de mortalidade maior do que as dos países que adotaram o confinamento. Contudo, a Suécia deverá sair da pandemia mais rapidamente. Em outras palavras, em uma nação sem confinamento os óbitos deverão se concentrar um intervalo de tempo relativamente curto, ao passo que um país com confinamento as mortes tendem a se distribuir por um período mais longo. Dito isto, a correta comparação dos óbitos verificados na Suécia com os ocorridos nos outros países somente poderá ser feita após alguns meses (ou mesmo anos).

3   Pandemia, confinamento e recessão

Mesmo que nenhum país do mundo tivesse adotado a politica de confinamento, a eclosão da pandemia teria um impacto negativo sobre a economia. A razão é simples. Independentemente da ação governamental, as pessoas ajustam o seu comportamento à existência do vírus. Desta forma, por conta própria elas irão menos frequentemente aos restaurantes e shoppings, reduzirão as viagens de lazer etc. Consequentemente, não é correto atribuir a recessão exclusivamente ao confinamento.

Por outro lado, o confinamento certamente tem um impacto negativo sobre a atividade econômica. Surpreendentemente, há quem alegue o contrário. Afirmativas nessa direção são fantasiosas. Afinal de contas, para que elas estivessem corretas, a seguinte sentença precisaria ser verdadeira: medidas como fechamento compulsório de diversos estabelecimentos comerciais, restrições ao trânsito de pessoas e veículos etc não têm impacto sobre o PIB. Dado que a frase em itálico é um contrassenso, o mesmo vale para a ideia de que o confinamento não afeta a economia.

Em síntese, a Covid-19 deu início à recessão e o confinamento a agravou.

4   Os efeitos adversos do confinamento sobre a saúde

Alguns textos publicados neste blog discutiram os efeitos adversos da recessão (agravada pelo confinamento) sobre a saúde. Uma recente matéria do jornal inglês The Telegraph aborda exatamente essa questão. Conforme discutido na reportagem, de acordo com a UNICEF as políticas de confinamento tendem a aumentar a mortalidade infantil (inclusive mais do que a própria Covid-19) nos países mais pobres, pois nesses locais as condições de habitação são particularmente precárias.


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