Alexandre B. Cunha
Em resposta à pandemia de Covid-19, muitas nações europeias adotaram medidas de confinamento. Uma exceção notável foi a Suécia. Discutem-se neste breve ensaio as ações adotadas por esse país escandinavo e algumas das implicações do seu provável sucesso.
De acordo com a entrevista do epidemiologista Johan Giesecke ao jornal português Público, a Suécia optou por introduzir algumas medidas de distanciamento social e manter a sua economia funcionando. Assim sendo, reuniões e eventos públicos podem ocorrer desde que haja no máximo 50 pessoas presentes, visitas aos albergues de idoso foram proibidas, restaurantes tiveram que aumentar a distância entre as mesas etc. Relativamente ao confinamento, o impacto adverso dessas medidas sobre a atividade econômica é menor. Porém, será que analisando o problema apenas sob o ponto de vista do imediato combate à pandemia, a Suécia agiu corretamente ao não adotar o confinamento? De acordo com os argumentos apresentados pelos defensores da referida política, pelo menos até o presente momento a resposta é, surpreendentemente, sim.
Conforme este autor apontou no texto Confinamento e achatamento da curva, o objetivo do confinamento consiste em reduzir a velocidade de propagação do vírus de forma a evitar que o número de pessoas necessitando de atendimento exceda a capacidade da rede de saúde. Consequentemente, as vidas que são salvas pelo confinamento são as daqueles enfermos que não seriam atendidos caso não houvesse o confinamento. Ora, esse argumento tem uma importante implicação: se o sistema de saúde de um país consegue atender todos os infectados pela Covid-19 que precisam ser hospitalizados sem que ele tenha implantado o confinamento, então esse país não teria qualquer beneficio em adotá-lo.
Tendo em vista a conclusão acima, questionar se por não adotar o confinamento a Suécia deixou de salvar vidas de pessoas infectadas pelo vírus chinês é equivalente fazer a seguinte pergunta: em algum momento durante o surto de Covid-19 ocorreu uma sobrecarga do sistema de saúde do país? Se a resposta for não, então os defensores do confinamento não podem criticar o governo sueco. E o fato é que até agora não houve sobrecarga. Mais ainda: os picos nos números diários de infeções e mortes ocorreram na segunda quinzena de abril (ver gráficos Daily New Cases e Daily Deaths aqui). Assim sendo, a menos que haja um inesperado recrudescimento do problema, a Suécia já passou pela fase mais aguda da pandemia; logo, tudo indica que a temida sobrecarga não irá ocorrer.
O caso da Suécia tem pelo menos duas importantes implicações. A primeira é para a formulação das políticas públicas das nações que adotaram o confinamento, pois findo o mesmo elas ainda precisarão lidar com o vírus. Por tal motivo, os procedimentos adotados no país escandinavos podem servir como ponto de partida para as políticas a serem implementadas em outros países no período pós-confinamento.
A segunda implicação diz respeito à avaliação do confinamento que, cedo ou tarde, necessariamente irá ocorrer. Se daqui a alguns meses se confirmar que efetivamente não houve a temida sobrecarga nos hospitais suecos, então a questão que se colocará para os países que adotaram o confinamento é que talvez pelo menos alguns deles devessem ter seguido o modelo sueco. Colocando de outra forma, a Suécia fornece um contraponto bastante incômodo para os defensores do confinamento e os políticos que seguiram os seus conselhos.
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